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O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA

O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA é abordado sob o ponto de vista de uma adolescente, que, diante da brutalidade com a qual o seu amigo de infância é assassinado durante uma blitz, faz com que ela se transforme radicalmente dentro de suas convicções

Arnaldo Freitas

Publicado em

Amandla Stenberg como Starr em “O Ódio Que Você Semeia”
Créditos da Imagem: Fox

Poucas vezes o cinema americano foi tão assertivo ao transportar para a “telinha” o retrato contundente e a brutal violência do submundo que permeia os guetos que compõem a sociedade norte-americana.

Não que O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA possa ser exemplificado apenas como sendo uma história que explora a cultura racista americana; poderia ser uma história de qualquer parte do mundo, mesmo da sociedade brasileira, guardadas as devidas diferenças que as norteia, conquanto as mesmas nuances que se verificam em episódios que contam histórias de racismo.

O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA não é uma história que foca apenas no racismo na sua forma mais agressiva, mas, também, traz uma mensagem do que seja real e verdadeiro no que concerne à valorização da família, da sua união, da sua tradição (com bigamia e tudo o que tem direito) e da sua resposta às vicissitudes da vida.

Dentro de um enfoque mais perturbador, traz uma mensagem de que a nossa liberdade como pessoa humana esbarra em uma arraigada proibição de que “é proibido nascer negro”, seja nos EUA, seja no Brasil, ou qualquer parte do mundo onde se estabeleceu o fenótipo da pele como distinção social.

Se por um lado os brancos desenvolveram coletivamente uma rejeição a quem seja negro, asiático, afrodescendente, etc., estes, também, de alguma maneira, na sua individualidade, desenvolveram um tipo de rejeição que alimentou o coletivo a qual pertence o seu grupo racial; copiada da política descriminatória vivenciada.

Pois também existe o racismo (às vezes exacerbado) até mesmo dentro do próprio grupo racial.

Aliás, vocábulo (“racial”) que deveria ser extinto dos dicionários, pois assim dar-se-ia início à erradicação de qualquer forma de preconceito, considerando que sejamos todos “humanos”.

O filme em si, com uma interpretação fabulosa da atriz Amandla Stenberg (Jogos Vorazes), bem como dos demais atores (todos negros, na maioria), é de uma estonteante empolgação, que, em algumas cenas, chega a mexer com o nosso emocional, mesmo não sendo melodramático.

A jovem Starr (Amandla Stenberg) é uma jovem desencontrada com a sua própria personalidade, pois nem sempre sabe a que mundo pertence dentro da sua dualidade de se ver negra, ora morando em um bairro pobre do subúrbio, onde impera a vida criminosa ditada pelos bandos que ali vivem e que têm no tráfico de drogas a sua sobrevivência, ora, embora sendo a mesma Starr, vendo-se frequentar uma escola para brancos, em um bairro distante de onde mora.

Imposição dos pais, que, como querendo quebrar a corrente que os condena à segregação, insistem em que é preciso enfrentar desafios e até a própria comunidade se pretendem uma vida diferente e que seja melhor para os seus filhos no futuro.

No geral, O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA é abordado sob o ponto de vista de uma adolescente, que, diante da brutalidade com a qual o seu amigo de infância é assassinado durante uma blitz, faz com que ela se transforme radicalmente dentro de suas convicções, do que foi ensinado pelos seus pais, do que são as verdadeiras amizades, e de como (ainda longe da vida adulta) enfrentar problemas que não fazem parte do seu mundo, embora preencham o seu dia a dia.

Em boa parte, o filme é uma narrativa das recordações que estão presentes na vida de Starr, mesclando com acontecimentos que vão desencadear uma série de enfrentamentos entre os que querem a condenação pela morte do seu jovem amigo de infância, e pelos que defendem o “sistema” e querem a não condenação do policial branco que alvejou o garoto, quando confundiu uma escova de pentear com uma arma.

Um filme que vai ser um marco dentre os filmes que tratam o tema “racismo” e que consagrará de vez a pequena atriz Amandla Stenberg, de apenas 1,60m, como uma das maiores atrizes de Hollywood.

Certamente, será cultuado como um clássico dos tempos modernos e vai mostrar a diferença da importância da “Era do Celular” a de outros tempos.

E, também vai mostrar o poder do uso da “palavra”, quando, já nas cenas finais, Starr empunha um megafone e diz: “É tão pesado quanto uma arma”.

Um excelente filme, que recomendo.

O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA estreia HOJE, dia 06 de dezembro, nos cinemas.

Sinopse

Starr Carter está constantemente alternando entre dois mundos: a vizinhança pobre, principalmente negra, onde mora, e a escola preparatória rica, quase toda branca, que frequenta. O equilíbrio inquieto entre esses mundos é quebrado quando Starr testemunha o assassinato de seu melhor amigo de infância, Khalil, pelas mãos de um policial. Agora, enfrentando pressões de todos os lados da comunidade, Starr precisa encontrar sua voz e defender o que é certo. THE HATE U GIVE é baseado no aclamado bestseller de Angie Thomas e estrelado por Amandla Stenberg como Starr, com Regina Hall, Russel Hornsby, Issa Rae, KJ Apa, Algee Smith, Sabrina Carpenter, Common e Anthony Mackie.

Ficha Técnica

Título: O Ódio Que Você Semeia (Original: The Hate U Give)
Ano de Produção: 2018
Direção: Tillman Jr.
Estreia: 06 de dezembro de 2018
Duração: 132 minutos
Classificação 14 – Não recomendado para menores de 14 anos
Gênero: Drama
País de Origem: Estados Unidos da América

Arnaldo Freitas é comerciante aposentado e crítico de cinema convidado da Poltrona Digital.

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