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A VIDA EXTRA-ORDINÁRIA DE TARSO DE CASTRO

Documentário retrata a trajetória do personagem que foi um divisor de águas no jornalismo brasileiro, estreia dia 24 de maio.

Arnaldo Freitas

Publicado em

Pôster de "A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro" Créditos da Imagem: Boulevard Filmes

Pôster de “A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro”
Créditos da Imagem: Boulevard Filmes

Não sei se para confundir ou dar-se a mesma interpretação da ambiguidade que foi a vida do personagem, já começamos com a polêmica ortográfica do título de A VIDA EXTRA-ORDINÁRIA DE TARSO DE CASTRO, quando a gramática nos pede “extraordinária” em vez de “extra-ordinária”.

Contudo, a questão está em trazer para os dias de hoje (talvez ressuscitando-o) o personagem carismático que foi Tarso de Castro, jornalista gaúcho, que, tendo nascido de pai jornalista (já por isso saindo em vantagem para a carreira que o consagraria), foi conduzido a conhecer ainda cedo aquelas monstruosas máquinas de impressão, conhecidas como “rotativas”, que imprimem a fantástica quantidade de mais de 15 mil exemplares por hora.

É um tanto difícil e comprometedor querer traçar um perfil biográfico de quem foi Tarso de Castro. Talvez, menos incômodo fosse falar sobre a sua época; período árduo da Ditadura Militar, quando ser jornalista ou mesmo trabalhar em áreas cuja atividade fosse relacionada à imprensa era por demais arriscado, visto a imperiosa fiscalização exercida pelo regime militar, que censurava toda e qualquer matéria jornalística antes da sua publicação, chegando ao cúmulo de introduzir nas redações dos grandes jornais, “revisores” das matérias a serem publicadas, em especial, os editorais ou colunas específicas de alguns jornalistas e colaboradores mais renomados.

E foi nesse clima que um transloucado gaúcho, ainda jovem, mas carregado de coragem e de uma audácia que afrontava o regime, tomou a iniciativa de publicar um semanário que vinha impregnado de muita sátira, muitas charges, piadas e maliciosas “alfinetadas” que mexiam com a imaginação dos leitores, provocando enxurradas de risos e, mesmo, acalorados debates, senão nos bares das esquinas, mas nos reservados dos locais de trabalho ou das nossas casas.

E assim, nasceu “O Pasquim”, uma inovadora e gratificante maneira de fazer jornalismo, onde o principal objetivo era divertir os leitores e quem sabe, “quebrar o gelo” daqueles dias de truculência e de repressão que todos experimentavam em maior ou menor escala.

O documentário, em si, pouco se atém a explorar este lado casual da nossa história; abordando com ênfase e com pretensiosa eloquência, o renascimento da figura de Tarso de Castro como um dos mais importantes jornalistas do Brasil.

Possível que tenha sido, mas ao focarmos com maior lucidez sobre a pessoa exagerada, complexa, polêmica (muitos o tratavam como “porra louca”), mulherengo, alcoólatra, que foi Tarso de Castro, e, agitado ao ponto de afrontar o diretor do jornal “A Folha de São Paulo” (onde trabalhava), durante uma discussão, impondo que este fizesse uma escolha entre ele e o seu filho, fica claro como resposta, tratar-se mesmo de uma pessoa colecionadora de problemas e de inimigos, conquanto a sua extensa lista de amigos abordada em A VIDA EXTRA-ORDINÁRIA DE TARSO DE CASTRO.

Amigos, que, mesmo em respeito à sua memória e ao que representou na vida de cada um, não titubearam, em alguns momentos, de alcunhá-lo de cafajeste, mal caráter e de mentiroso.

E, tudo isso, provado sem contestação durante o desenrolar do filme.

Possivelmente, nos dias atuais, com o advento da Internet, seria um Tarso de Castro com milhões de seguidores, visto a sua visão inovadora e sua capacidade empreendedora.

Também, possivelmente, não o fosse, pois pessoas com acentuados desvios morais não se traduzem como referência em qualquer época.

Em resumo, A VIDA EXTRA-ORDINÁRIA DE TARSO DE CASTRO é um documentário bem dirigido, coerente, criterioso, mas que não deveria gerar a expectativa de querer contemplar em Tarso de Castro, uma pessoa a ser (re)descoberta pelas novas gerações como sendo um ícone do nosso jornalismo ou duma época.

Mas bem poderia sê-lo, se se propusesse a ter-se conduzido com maior consciência do seu valor e transformado-se na referência que muitos propagam em afirmar quando dizem que o jornalismo brasileiro divide-se entre antes e depois de Tarso de Castro.

Particularmente, confesso que não!

Seria acirrar um debate em que vários nomes seriam contestados e uns tantos outros esquecidos na sua importância perante a história maravilhosa do nosso jornalismo, numa época onde a vedete não era a Internet, nem tampouco o celular, mas sim, a extraordinária máquina de escrever.

Trocando em miúdos, vale a pena assistir A VIDA EXTRA-ORDINÁRIA DE TARSO DE CASTRO, que mergulha, embora superficialmente, no que foi a época da ditadura e, bem afoitamente, na vida do personagem, revivendo momentos ainda por muitos desconhecidos da nossa história.

Eu recomendo!

Sinopse

Boêmio. Provocador. Sedutor. Revolucionário. Além de idealizador do “Pasquim”, Tarso de Castro foi um dos maiores jornalistas do Brasil. Ao investigar sua vida, vem à tona a história de um país embriagado pela ditadura e pela censura, onde o sonho de democracia nascia de uma geração libertária.

Ficha Técnica

Título: A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro
Ano de Produção: 2017
Direção: Leo Garcia Zeca Brito
Estreia: 24 de maio de 2018
Duração: 90 minutos
Classificação:
Gênero: Documentário
Países de Origem: Brasil

Agradecimentos: Boulevard Filmes

Arnaldo Freitas é comerciante aposentado e crítico de cinema convidado da Poltrona Digital.

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